Este ano é tudo diferente.
O “afastamento social” tem-nos roubado muitos momentos,
tem-nos escondido muitos rostos, tem-nos desenlaçado muitos abraços e sonegado
muitos beijos. De repente, tornou-se mais difícil encontrarmo-nos e celebrarmos
juntos o facto de coexistirmos.
Torna-se, pois, vital não deixarmos esquecer o que é
realmente importante e não deixarmos de festejar os sucessos e os triunfos que
vamos vivendo.
A ESSMO voltou a colocar mais de 100 alunos no Ensino
Superior. O AENSM acabou de entregar ao futuro mais de uma centena de profissionais
com formação superior. Tomar repetiu, através desta escola / agrupamento, um
conjunto de jovens prontos a ocupar alguns dos cargos de excelência das
próximas décadas.
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Três dos novos universitários, saídos da ESSMO
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Será que todos temos consciência disso?
Será que Tomar – a cidade; o município; a comunicação social
local – reconhece devidamente o quadro de excelência que todos os anos –
sucessivamente! – o AENSM vai formando e entregando ao futuro? Às vezes, receio
que não.
Este ano – outra vez! – a ESSMO (e Tomar) colocou uma dezena
de alunos em cursos cuja média de colocação foi superior a 18 valores.
Este ano – outra vez! – há alunos da ESSMO (e de Tomar) a
integrar os melhores cursos nacionais de Engenharia, de Medicina, de
Arquitetura, de Gestão, de Informática, de Investigação…
Este ano – outra vez! – há alunos da ESSMO (e de Tomar)
espalhados por todo o país (do Minho ao Algarve) a levar o nome da escola, do
agrupamento (e de Tomar) às melhores salas de aula e às melhores
Universidades.
Seria importante celebrá-los!
Dentro das limitações deste “Estado de Contingência” em que
nos contemos, fui falar com alguns desses alunos. Já são poucos os que estão
por cá. Muitos já estão a fazer “a grande mudança”, como me respondia por mail
a Mariana Henriques. Mas ainda foi possível falar com alguns.
E a conversa foi – como sempre! – interessante.
Colocações
O Pedro Marques dizia-me que o momento em que chegou a
notícia da sua colocação (Medicina, em Lisboa) foi um momento de festa e
celebração para todos lá em casa. Que a tia se emocionou muito e que, no fundo,
mais do que ele, foi a família que entrou na Universidade.
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Pedro Marques [Medicina, Univ. Lisboa]
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A Mariana Henriques também ficou muito feliz. «É um curso muito bom (Medicina Dentária) e que tem prática hospitalar desde o 1º ano. Além de mim, toda a família ficou também muito feliz já que temos raízes ainda nessa cidade. É como um voltar às origens.»
Já o Diogo Pires e o
Manuel Santos não se empolgaram muito com a notícia da colocação… no fundo, já
sabiam que iriam entrar em Engenharia Aeroespacial – que é só o curso com nota
de colocação mais elevada do país [191,3] a par de Engenharia e Gestão
Industrial e de Engenharia Física Tecnológica.
(Mas o Diogo e o Manuel entrariam em qualquer curso, de
qualquer universidade, em qualquer ano, que escolhessem! Nem vos digo as médias
com que estes dois jovens se candidataram. São “obscenas”!)
A determinado momento da conversa, eles devem ter reparado
na minha cara e descansaram-me (ou “tentaram descansar”). Eles não estudavam muito. Na
verdade, quase não estudaram! Tudo dependia de uma boa gestão do tempo. O Manuel
ainda reconheceu que «tive que estudar muito para Piano. Foi a disciplina que
me ocupou mais tempo.» Nas outras (Matemática, Português, Física, Química…),
bastava estar atento e concentrado nas aulas.
– Piano?!
«Sim! Eu estive a tirar dois cursos secundários ao mesmo
tempo: Ciências e Tecnologias (na ESSMO) e o articulado de Música / Piano (na
SFGP).»
– E concorreste com a média de XXX,X?!?
«Sim!... É uma questão de organização de tempo e de
hierarquia de prioridades.»
Fácil, não é? Pelo menos parece… Mas já o ano passado eu tinha ouvido o mesmo discurso nas
palavas da Eva Claro. Se calhar, é mesmo assim!
Foi então que o Diogo Pires ajudou à explicação: «É uma
questão de gestão de tempo e de se gostar do que se está a fazer. Eu também não
tive que estudar muito, e tive sempre tempo para os meus hobbies: Guitarra e
Desenho. E além disso, comecei a aprender Alemão. Se gostarmos do que estamos a
fazer, não precisamos de estudar. Eu gosto muito de Matemática, Física,
Química; então, muitas vezes eu ocupava os meus tempos livres a divertir-me com
coisas relativas a estes hobbies…»
– Para ti, os sites de Matemática, Física e Química são como o
Facebook, Instagram e Snapchat?
«Podemos dizer que… sim! Eu não tenho essas redes sociais,
mas tenho tempo livre. Gasto-o a fazer o que gosto. E gosto de coisas como
Matemática, Alemão, Guitarra… Ah! E aprendi a gostar de Geometria Descritiva.
Ao princípio não gostava muito, mas depois a prof.ª Antónia Rodrigues fez-me
gostar da disciplina e eu passei a divertir-me com os exercícios de Geometria.
Deixou de ser um trabalho e passou a ser um passatempo!»
Sonhos
E quanto ao futuro? Que sonhos? Que perspetivas?
O Diogo Pires tem como horizonte possível ou provável a
Alemanha. «É um país grande, com muitas saídas. Eu escolhi Engenharia
Aeroespacial porque é um curso muito versátil e que permite muitos percursos
profissionais. Não é só “aviões” e “satélites” como às vezes se pensa. Gostava
de experimentar a “Engenharia Automóvel”.»
– Ah! É por isso que decidiste começar a aprender Alemão?
«É preciso gerir o tempo e fazer as escolhas acertadas…»
Pois!
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Diogo Pires [Eng. Aeroespacial, Inst. Sup. Técnico] |
O Manuel Santos escolheu “Aeroespacial” porque quer mesmo
«seguir algo relacionado com o espaço. Talvez a NASA, nos EUA. Talvez a Agência
Espacial Europeia (ESA) aqui na Europa. Ou então, algo relacionado com a
indústria da aviação.»
Já Pedro Marques vê-se «nos Estados Unidos ou no Reino
Unido. Gostava de fazer investigação. Mas gostava também de experimentar a
política. O meu avô tem uma história relevante na política, o meu tio (na Noruega) também seguiu a carreira política; por isso a política também me é
estimulante. Gostava de experimentar.»
A Mariana, por trás da voz doce e sorriso fácil, reconheceu discretamente que o seu maior sonho é «acabar bem o curso. Depois se verá, mas penso começar a trabalhar logo depois de terminado o mestrado.»
– Em Tomar?
«Não sei! Talvez. Mas não obrigatoriamente.»
– Portugal é o teu limite?
«Sim... Portugal é o limite.»
A ESSMO
O Manuel Santos fala com carinho dos amigos que fez e tem desde o 5º ano. «Quer na EDNAP quer na ESSMO. Vou, certamente, lembrar-me muitas
vezes deles. E lembrar-me-ei, certamente, de alguns professores que me marcaram
profundamente. Gostava de referir o professor Eduardo Mendes, de História, que
me fez gostar de História no 2º ciclo e o inesquecível professor José Carlos
Antunes, que na ESSMO me deu toda uma outra perspetiva sobre a Filosofia e sobre a Psicologia. Foi “por causa dele” que tive a disciplina de
Psicologia “a mais” no 12º ano.»
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Manuel Santos [Eng. Aeroespacial, Inst. Sup. Técnico]
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A Mariana Henriques destacou os bons momentos que passou nesta escola. «Muitos e muito bons momentos! E os amigos! Vou ter muitas saudades dos meus amigos, ainda que vá tentar manter o contacto com todos. Mas vamos estar longe. Vou ter saudades das minhas amizades. Foi uma boa escola... Só tenho pena de não me ter envolvido em mais atividades nestes três anos. A escola tem muita oferta, há sempre projetos, concursos, ofertas extracurriculares e eu não aproveitei muito. Se fosse agora, ter-me-ia envolvido mais.»
– Provavelmente trabalhaste para outras coisas... São escolhas que se têm que fazer!»
«Pois! Mas ainda assim...»
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Mariana Henriques [Medicina Dentária, Univ. Coimbra]
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O Pedro Marques recorda com muita satisfação «os 3 anos que
estive na ESSMO. Gostei muito desta escola. Fiz aqui amigos que serão para
guardar durante muitos anos. E houve alguns professores que me marcaram para
sempre; permito-me destacar o prof. Carlos Craveiro, professor de Biologia.»
Da passagem pela ESSMO, o Diogo destacou sobretudo os professores. Sobretudo os da
área de Ciências. «Gostava de referir a prof.ª Antónia Rodrigues de Geometria
Descritiva, e alguns professores que não tivemos…»
– Desculpa! "Professores que não tiveram…?!?
«Sim! Por exemplo a prof.ª Júlia Quadros. Não sendo nossa
professora, ajudou-nos sempre que precisámos. Nomeadamente na preparação para
os exames. E a generalidade dos professores de Matemática. Os nossos foram
sempre muito bons!»
Estava eu a ouvi-los e a pensar na importância que estes
jovens reconhecem aos professores, quando o Manuel interrompe e diz:
«Eu e o Diogo já falámos sobre isto e queríamos deixar uma
homenagem especial a duas das nossas professoras: a prof.ª Filipa Cotralha e a
prof.ª Mafalda Luís. Foram ambas nossas professoras e queríamos deixar a nossa
homenagem antes de irmos embora.»
(As professoras Filipa Cotralha [Fis-Qui] e Mafalda Luís [Mat] deixaram-nos prematura e dolorosamente, vítimas de doenças do foro oncológico, tendo sido professoras de muitos destes 105 alunos que agora entraram para o Ensino Superior)
Calei-me… e fiquei com a certeza que para além de excelentes
alunos, temos na escola excelentes pessoas! E garantidamente excelentes
famílias e excelentes pais. Estas coisas vêm de casa, são espontâneas porque
são hipodérmicas. São inatas e não formais. E tive que ficar calado por mais uns instantes...
E eles ainda voltaram:
«E levamos também muito boas recordações das atividades
extracurriculares. Nós (o Diogo, o Manuel) e o João Pedro Rodrigues
participámos num concurso de Estatística, promovido pelo INE, e fomos a equipa
vencedora a nível nacional – ganhámos o 1º lugar em Portugal. E depois não se
realizou a fase europeia por causa da Covid19. Mas foi muito importante para
nós.»
E de repente lembrei-me de uma história parecida.
Talvez fosse interessante revisitar o artigo do ano passado:
"Abrir asas e voar"
A história parece repetir-se… mas mantém-se o facto de serem
todos “Excelentes pessoas!”
Alguns perguntar-se-ão porquê estes alunos e não outros. Foram tantos! Mais de 100...
Na impossibilidade de haver a Entrega dos Diplomas, foi preciso encontrar um critério. Um qualquer. Optei por contactar os alunos que foram colocados em cursos com médias de entrada superiores a 180 pontos. Contactei-os direta ou indiretamente a todos. Alguns não encontraram disponibilidade, outros não quiseram responder, outros não conseguiram chegar a tempo...
Mas a verdade é que foram 105 alunos que entraram numa outra fase da sua vida.
Todos, sem exceção, estão de parabéns! Todos conseguiram ultrapassar muitas dificuldades e muitos obstáculos.
(Vá-se lá agora saber quem é que teve mais mérito, mais esforço, mais superação!?)
Que o céu seja o vosso limite!
(NR: no caso de Aeroespacial, podem passar esse limite!)
Todos nós nos orgulhamos de cada um de vós!
José Paulo Vasconcelos