sexta-feira, 12 de junho de 2020

Quando a Terra Renasceu

“Quem habita este planeta não é o Homem, mas os homens. A pluralidade é a lei da Terra.” 

Hannah Arendt (filósofa alemã, séc. XX)


Nunca como agora, nestes tempos difíceis de combate à terrível pandemia da Covid-19, foi tão importante celebrar a Terra e a sintonia dos homens que dela usufruem, cuja pluralidade torna mais rica, mas muito mais desafiante a tarefa.

Foi assim que nasceu a ideia de comemorar o Dia Mundial da Terra, numa sintonia de homens: alunas e alunos de algumas turmas de 7º Ano, com as suas professoras de Português, Ciências Naturais e Cidadania e Desenvolvimento.

No âmbito da disciplina de Português, os alunos puseram em prática os conhecimentos que tinham acabado de adquirir sobre o género dramático da Literatura e produziram textos muito interessantes, que ilustraram em Cidadania.

Ora leiam e apreciem!
Prof.ª Ana Cristina Sousa

Quando a Terra Renasceu

Personagens: Terra, Água, Ar, Fogo

(A Terra cansada, pálida, poluída, desesperada fala para os seus elementos)
Terra: Água estás tão poluída. Queria ajudar-te, mas não sei como.
(A Água suja e desanimada.)
Água: Oh Terra, eu sou um bem essencial à vida dos humanos, mas eles não veem isso.
Terra: Então que te fizeram?
Água: Não me respeitam, poluem-me com todo o lixo que possas imaginar e matam todos os animais que vivem em mim, até os peixes que servem para os alimentar.
Terra: E já tentaste fazer alguma coisa, para chamar os humanos à atenção?
Água: Já me revoltei várias vezes. Cheguei a lançar aquelas ondas gigantes, que os humanos chamam de tsunami. Mas não resultou, continuam a tratar-me sem respeito nenhum. 
(A Água triste, sai de mansinho.)
Terra: E tu Ar? Pareces-me tão pesado e cinzento.
Ar: Ai, Terra, se visses o que fazem comigo?! (Suspirando) Milhares de carros lançam gases poluentes na minha atmosfera, fábricas com chaminés que deitam fumos tóxicos incessantemente, humanos que fumam cigarros que me fazem mal a mim e a eles próprios.
Terra: Como lamento o que te estão a fazer!
(O Ar quase a chorar)
Ar: Até provocaram um buraco na minha atmosfera: o buraco do ozono.
Terra: Estes humanos nem para eles são bons.
(O Ar sai de desanimado)
Terra: E tu, fogo? Tenho-te visto a alastrar como nunca…
Fogo: Eu fui inventado, sem querer, pelos humanos e fui muito útil para os ajudar a cozinhar os alimentos, para se defenderem dos animais perigosos e em muitas outras tarefas importantes.
Terra: Então porque me pareces tão infeliz?
(O Fogo enfurecido.) 
Fogo: Os humanos abusam do meu poder para mérito próprio e até como brincadeiras que acham engraçadas e não veem que te estão a destruir, Terra, e a todos os que em ti habitam.
(A Terra desanimada, deixa correr uma lágrima e a Água e o Fogo tentam consolá-la.)
Água: Não desesperes Terra, pode ser que os humanos caiam em si.
Fogo: Ou algo que os faça pensar e mudar.
(Entre o Ar, aflito, a falar muito depressa e a tentar contar uma novidade que tinha lido num jornal, caído no chão)
Ar: Terra, Fogo, Água vocês nem imaginam o que li… Apareceu no mundo uma doença, causada por um Corona vírus e foi batizada de Covid-19.
(A terra muito surpreendida, pergunta.)
Terra: E o que é isso? O que é que ela faz, essa Covid-19?
(O Ar, lamentando-se.)
Ar: Ela não é boa. Pelo que percebi, é uma doença altamente contagiosa entre os humanos e eles ficam muito doentes nos pulmões e muitos morrem.
(O Fogo, intrigado.)
Fogo: Então e agora? O que está a acontecer?
Ar: As pessoas deixaram de sair à rua, de contactarem umas com as outras, para evitar a propagação da doença.
Fogo: E tu, sentiste alguma diferença, Ar?
Ar: Nem imaginas quanto! Circulam menos carros, logo, a poluição desceu drasticamente. Como não há pessoas na rua, também não fumam ao ar livre e não poluem as ruas.
(O Ar, espantado.)
Imaginem que até nascem ervas nos passeios…
(Entra a Água, entusiasmada.)
Água: Agora que falam nisso, tenho reparado na ausência de pessoas nas minhas praias, não poluem a minha areia, nem a minha água.
(Vem a Terra, surpreendida, a falar para a Água.)
Terra: Ouvi dizer que as tuas águas dos canais de Veneza estão límpidas e até os peixinhos regressaram a elas.
(A água, sem conseguir conter a sua alegria.)
Água: É verdade, é verdade, estou a sentir-me revigorada.
(O Fogo, que também sabe novidades, entra de rompante para contar,)
Fogo: Vocês nem sabem, estava eu aceso numa lamparina de um laboratório de um hospital e ouvi os cientistas a falar.
(A Terra, a Água e o Ar aguardam em suspense, que o Fogo conte o que ouviu.)
Fogo: Coitados! Até tive pena… Eles estão exaustos, a tentar descobrir a cura da doença, cada vez mais médicos e enfermeiros, que tentam ajudar os doentes, também ficam doentes. Não há camas de hospital que cheguem para todos, não há aquela coisa de ventiladores que cheguem para todos, nem materiais de protecção.
(A Terra também tem novidades.)
Terra: Estive a dar uma vista de olhos por todos os países que me habitam e percebi que em alguns a doença não alastra de forma tão agressiva.
(Pergunta a Água, curiosa.)
Água: E porque será?
Terra: Olha, devem existir vários motivos, mas, por exemplo, em Portugal, os seus Governantes tomaram medidas muito cedo e acho que isso está a ajudá-los.
Ar: E que medidas foram essas?
Terra: Além dos cuidados de higiene, fecharam-se em casa, as crianças deixaram de ir à escola e só as profissões essenciais como as da saúde, da segurança, dos supermercados, vão trabalhar.
Água: Então esses profissionais estão a portar-se como uns heróis!
Fogo: E as crianças e jovens não vão à escola? Isso não me parece muito bem!
Terra: Olha, não é assim tão mau. Alguns estão a sofrer com a ausência das suas rotinas e dos seus amigos, mas os governantes do país e os professores uniram-se e dão aulas pela televisão e pelos computadores.
(O Fogo continua intrigado.)
Fogo: Oh Terra, e achas que isso resulta?
Terra: Não sei bem. Mas ouvi dizer que a telescola, como lhe chamam, tem mais audiências que outros canais com coisas pouco interessantes que as pessoas viam. Sabias que agora até os pais e os avós veem as aulas da televisão?
(Entra o Ar na conversa, com ar muito sábio.)
Ar: Sim. E parece que estão a gostar muito. E agora as famílias também estão mais unidas, passam serões em família, brincam com os filhos e eles também estão a aprender coisas novas.
(A Água, curiosa, pergunta.)
Água: Como assim coisas novas?
Ar: Nem imaginas! Agora muitos pais fazem pão em casa e muitas crianças nem sabiam como se faziam pão. Muitos também estão a fazer a própria horta. E as tarefas do dia a dia também são uma boa aprendizagem.
(A Terra manifesta-se num misto de sentimentos.)
Terra: Eu estou tão triste por um lado, mas não posso deixar de estar feliz por outro…
Fogo: Como assim?
Terra: Lamento imenso a morte dos milhares de pessoas que não resistiram a esta doença, os pais que ficaram sem filhos, os filhos que ficaram sem pais… Mas por outro lado, vejam bem…
(E disse suspirando com um sopro novo, vindo bem lá do seu interior.)
Esta pausa deu-nos um novo ânimo, uma nova vida, nós Renascemos!

Matilde — 7.º C

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