Em jeito de reflexão pessoal
Teve lugar, na passada sexta-feira, dia 08, a XX edição da Biodiversidade e Jantar Lusitano.
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Um pormenor revelador do cuidado posto nesta atividade |
Terá sido, provavelmente, a última vez que nos foi dado o privilégio de ouvirmos o Professor Doutor Jorge Paiva nas suas inesquecíveis e sempre surpreendentes palestras e, terá sido, possivelmente, a última vez que nos foi facultada a possibilidade de experimentar e saborearmos um "Jantar Lusitano" (uma refeição confecionada com os alimentos que os Lusitanos usavam e com os temperos que estavam disponíveis antes dos Descobrimentos e da Globalização em que vivemos).
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As plantas e a obra poética de Camões. |
O professor Jorge Paiva, já com 91 anos, tem vindo ao longo destas 20 edições a divulgar os seus vastíssimos conhecimentos sobre a Biodiversidade e a alertar para os perigos imediatos, e assustadoramente reais, a que a vida no planeta está exposta.
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Prof. Doutor Jorge Paiva - Uma biblioteca viva |
Confesso, pessoalmente, que já tenho saudades da Biodiversidade e do Jantar Lusitano. Há algumas atividades que as escolas realizam que são muito maiores do que elas próprias. Esta foi uma atividade de excecional qualidade, marcante no panorama científico nacional, na região de Tomar e, obviamente, no AENSM.
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Jantares inesquecíveis |
A palestra
O público que esperava na Biblioteca Municipal pôde ver uma atuação muito interessante – ainda que limitada pelo tamanho do palco da biblioteca municipal – de uma equipa do Ginásio Clube Tomar, com muitos alunos do AENSM, que fez uma pequena apresentação de um grande espetáculo que merece, de facto, ser visto por muita gente.
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Ao vivo e a cores ainda é mais impressionante |
Ainda antes do início da palestra, o professor Jorge Paiva recebeu das mãos de uma aluna do AENSM, a Mariana Nunes (12ºC), um quadro pintado a caneta e lápis de cor e que, de alguma forma, tenta homenagear tudo aquilo que este cientista deixou como semente nas várias gerações que tiveram oportunidade e o privilégio de aprender com ele.
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A receber o quadro das mão da Mariana Nunes |
Na aula dada pelo professor doutor Jorge Paiva – este ano subordinada ao tema “A Fitodiversidade na Obra Poética de Camões” – foram abordadas as múltiplas referências a plantas que o poeta português tem na sua obra. Deixamos no final deste artigo a sinopse da comunicação feita pelo professor Jorge Paiva. Esta sinopse deve ser entendida apenas como um registo muito sumário de uma conferência que, mais uma vez, se destacou pela diversidade, multiplicidade e encadeamento informal de conhecimentos.
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Uma conferência seguida com muita atenção e interesse |
O Jantar
Às 20:00, foi altura de todos se dirigirem à Esc. Sec. Santa Maria do Olival, onde a “Sala Polivalente” tinha sido transformada em “Salão Histórico, Cultural e Comensal”.
A sala e as mesas estavam decoradas a preceito, num ambiente de imersão no campo e nos ingredientes que iriam ser usados no jantar, com especial enfoque nas plantas usadas para a confeção de grande parte dos pratos.
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A mesa dos aperitivos |
Além disso, havia uma exposição de algumas das plantas referidas na palestra do prof. Jorge Paiva, acompanhadas por informações relativamente ao habitat e à sua dispersão pelo território, ou ainda, ao nome comum pelo qual são universalmente conhecidas.
Um grupo de alunos do 12º ano, criteriosamente vestidos à época, passeavam-se pela sala, conferindo uma certa “cor local” e preparando-se para ler, durante o jantar, um conjunto de poemas camonianos nos quais eram nomeadas algumas das plantas a que o prof. Jorge Paiva se tinha referido na sua palestra.
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Princesas pela escola dizendo Camões |
Também um grupo de professores e alunos, já com alguma tradição na animação de eventos do AENSM, se disponibilizou para entoar algumas canções compostas sobre poemas de Camões.
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Também houve espaço e tempo para a música com palavras |
Enfim, juntando todos os professores, funcionários e alunos que estiveram envolvidos diretamente neste “Jantar Lusitano” – uns animando, alguns decorando, outros confecionando uma quantidade impressionante de pratos, uns quantos servindo e dando apoio, uns gravando em vídeo e registando em fotografia, outros acolhendo, acompanhando e ajudando os convivas na sala… muitos foram os que se envolveram para dar corpo a mais uma edição desta atividade.
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Algumas alunas do Curso Profissional de Turismo |
Razão tinha a diretora do AENSM, Celeste Sousa, quando confessava a alguns dos convidados e representantes presentes (Secretário de Estado da Educação - Pedro Cunha; Delegado Regional da Educação - Pedro Florêncio; Presidente da Câmara de Tomar - Hugo Cristóvão; Vice-presidente da CCDR-LVT - José Alho; ....) que se sentia orgulhosa e privilegiada por poder contar com uma equipa tão vasta de gente que fazia as coisas acontecerem.
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A educação em discussão. |
Referências finais
Importa deixar expresso o reconhecimento e o agradecimento a um número muito alargado de pessoas que trabalharam diretamente para o sucesso desta atividade.
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Um enorme esforço para que tudo corresse bem |
Começando pela equipa que acompanha a Diretora; pela equipa de cozinheiras e auxiliares de cozinha; pelos alunos dos cursos profissionais de Turismo e de Multimédia; pelas professoras envolvidas na decoração e montagem da sala; pelos professores que prepararam e acompanharam os alunos que cantaram e declamaram durante o jantar; pela equipa do Ginásio Clube de Tomar; e pela equipa extraordinária de auxiliares que montaram e serviram o jantar.
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Alguns nem se viram, mas estiveram sempre lá! |
Só com a colaboração e dedicação de muitos é possível fazer atividades como esta.
Sinopse
Na época em que Camões viveu, as plantas mais conhecidas e citadas na literatura eram mais as plantas medicinais do que as comestíveis; na poesia eram referidas, sobretudo, as plantas ornamentais ou com relevância mitológica.
Como Os Lusíadas foram escritos, quase na sua totalidade, no Oriente e centrados nos Descobrimentos, grande parte das plantas referidas nesta epopeia são asiáticas, particularmente especiarias e plantas medicinais.
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Hora das sobremesas |
A Lírica, como foi maioritariamente escrita em Portugal e centrada no amor e paixão, refere plantas quase na totalidade europeias, mediterrânicas, e geralmente utilizadas pelos poetas desde a Antiguidade Clássica.
Assim, na lírica predominam referências às flores que ainda hoje se utilizam com simbologia afetuosa como, por exemplo, rosas, lídios e jacintos.
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Dizendo Camões... |
Numa e noutra obra o poeta raramente refere as mesmas plantas. Mas, quando isso acontece, fá-lo por vezes com significado diferente. Como Camões viveu 13 anos em Coimbra (1531-1544) de onde partiu aos 20 anos, uma parte das plantas referidas na sua lírica são originais dos campos do Mondego; rio e plantas que refere também saudosamente no episódio de Inês de Castro (c. III,118-135) e no episódio da “Ilha dos Amores” (c. IX, 18-95; c. X 1-143). Há outros episódios no poema épico onde, em vez de plantas do Oriente, o poeta utiliza plantas europeias citadas na lírica, como os referentes a relações amorosas entre divindades mitológicas (por exemplo, a “hera” – “Hedera helix” c. II, 36).
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Cantando Camões... |
Entre as plantas referidas pelo poeta, há muitas que ele viu na natureza, como algumas plantas das especiarias e algumas da flora ripícola do Mondego e, outras que ele nunca viu, como algumas da mitologia e da poesia clássica, como, por exemplo, do Narciso dos Poetas (“Narcissus poeticus”) que Camões refere como a “Flor Cifísia” (c. IX, 60).
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Acompanhando Camões... |
Camões conhecia, seguramente, não só obras gregas sobre plantas, particularmente o “Tratado de matéria médica” de Pediamos Dioscórides (40-90 dC), assim como a maioria das plantas que Garcia de Orta refere nos “Colóquios dos Simples e Drogas e Coisas Medicinais da Índia”, obra publicada em Goa (1563), antes do poeta iniciar a sua viagem de regresso à sua na Terra Natal (1567), onde desembarcará, em Cascais (1570), trazendo consigo, certamente, o tratado de Garcia de Orta, relevante para a revisão e finalização do seu poema épico, que virá a publicar cerca de dois anos depois (1572).
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A famosa "Salada Jorge Paiva" |
Apesar de se saber isso, não é fácil determinar com exatidão as plantas referidas por Camões em toda a sua Obra Poética (épica e lírica), pois a maioria das vezes refere-as não só de forma poética, como também utilizando a sua admirável arte de derivar com peculiar sagacidade linguística.
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Experimentando novos "velhos sabores". |
É em "Os Lusíadas" que o poeta mais plantas menciona (cerca de 5 dezenas de espécies), muitas asiáticas e aromáticas. Na Lírica refere muito menos espécies de plantas (cerca de 3 dezenas e meia), maioritariamente europeias campestres ou ornamentais.
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Jorge Paiva e Maria Celeste Sousa - 20 anos de colaboração |
Para determinados poemas que são objeto da disputa de críticos literários sobre a autoria real desses textos atribuídos a Camões, as plantas citadas nessas obras poderão auxiliar na determinação da autoria. É, por exemplo, o caso de “Vergel de Amor”. Nesta poesia, citam-se muitas plantas por estrofe, o que não é característico de Camões e mencionam-se muitas plantas que não encontramos citadas em toda a Obra Poética indubitavelmente camoniana, como, por exemplo, as boas noites (Mirabilis Japata) , nativas do México e América Central e não conhecidas na Europa na época de Camões e o girassol (Helianthus Annuus), também nativo do continente americano (do sudoeste dos Estados Unidos até ao México); assim como plantas dos nossos outeiros e montanhas, como as giestas (Cytisus) e os rosmaninhos (Lavandula).
JPVasc
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Biodiversidade e Jantar Lusitano
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