Realizou-se ontem, dia 12 de fevereiro, uma Ação de Curta Duração (ACD para professores e outros responsáveis pela educação, subordinada ao tema "Educação Relacional - O porquê de um novo paradigma?". O formador foi Rui Marques, que ficou conhecido, sobretudo, por ter sido o rosto e o defensor "utópico" da independência de Timor, nomeadamente através da iniciativa "Lusitânia Expresso".
Rui Marques tem um longo currículo. As informações mais detalhadas podem ser obtidas no site pessoal deste motivador.
A diretora do AENSM, Celeste Sousa, sintetizou, na abertura da sessão, toda a nota biográfica numa frase que parece resumir muito bem o essencial de Rui Marques: "Rui, um cuidador de pessoas".
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Sara Moucho, Celeste Sousa, Rui Marques |
A formação incidiu sobre as grandes questões relacionais dentro das empresas e das organizações.
Começou Rui Marques por partir de um princípio básico e, por isso mesmo, essencial e estruturador de toda a nossa dimensão humana:
Tudo na vida se baseia em relações
E disse (ou relembrou) o orador que "antes de sermos animais racionais, somos seres relacionais".
E tanto é assim que dependemos das relações que estabelecemos com quem nos enquadra. Na verdade, somos dos seres vivos mais dependentes quando nascemos, e ao longo da vida a nossa sobrevivência (primeiro biológica, depois social, emocional e psicológica) depende integralmente das relações que criamos e mantemos com os outros.
São as relações com os outros que nos explicam e nos estruturam.
Mas é necessário que tenhamos a consciência que estamos a viver um:
#1 Um “inverno” relacional
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Um "inverno" relacional? |
- O aumento da violência nas escolas
- O aumento da violência no quotidiano social (no trânsito; no supermercado; nas aglomerações sociais...)
- Metade dos professores sentem-se tristes e ansiosos
E destacou que este "inverno relacional" é crítico para as escolas e para o sistema educativo, porque: "Só há aprendizagens significativas num quadro de relações significativas."
E esclareceu que “Aprende-se com quem se gosta e não do que se gosta.”
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Esta é uma "Geração Ansiosa" |
São múltiplos os casos de alunos que reconhecem que aprenderam melhor determinada matéria porque gostaram do professor que lecionou essa matéria; ou mais ainda: que passaram a gostar de uma matéria ou disciplina, por causa do professor(a) que dava essa disciplina.
Nesta perspetiva, a ligação emocional dos aprendentes com os educadores (professores) e com a organização educativa (escola) é mais do que importante: é decisiva!
E acrescentou ainda que: "Só é possível aprender na Escola se a Escola (espaço, organização e professores) for apresentada e percecionada como uma instituição respeitável e admirável." Ora...
E a construção dessa imagem da escola tem a ver com o reconhecimento público da Escola - ou seja, o aluno olhará (e considerará) a Escola como os políticos; os Encarregados de Educação; os colegas; os professores; os órgãos de comunicação social... a comunidade olhar e considerar a Escola. Ou seja, criticar publicamente a escola (instituição) e os seus atores (professores) é o primeiro passo para que a escola e os professores não sejam tidos como "significativos". E... "Só há aprendizagens significativas num quadro de relações significativas."
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"Só há aprendizagens significativas num quadro de relações significativas." |
A este propósito, Rui Marques confrontou a plateia com os dados estatísticos sobre aqueles que são os grandes riscos para a humanidade:
E a ordem dos três principais riscos (provavelmente, de forma surpreendente) é esta:
- Desinformação - a falta de conhecimento e de compreensão dos eventos
- Alterações climatéricas - questões ecológicas e de proteção do ambiente
- A polarização social - a surdez entre elementos da sociedade.
e depois... mais cerca de uma dezena de problemas gravíssimos que põem em risco a humanidade.
Mas nos três primeiros, aqueles que são tidos como os mais graves de todos, temos a "Desinformação" e a falta de "Relações sociais" entre os humanos. Devia fazer-nos pensar...
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Um grupo muito atento |
#2 - Uma escola é uma rede de relações
“Alguns creem que as pessoas constroem relações. Eu estou convencido que as relações constroem pessoas.”
E Rui Marques destacou a importância das relações pessoais nos indivíduos e nas comunidades escolares e de aprendizagem.
É sua convicção que a educação devia ser pensada, em primeiro lugar, como um exercício relacional.
- relacionar-se consigo próprio
- relacionar-se com os outros
- relacionar-se com o sistema
#3 - A nossa visão da Educação Relacional
A escola precisa de professores relacionais. Professores que invistam na criação de relações significativas e emocionais com os seus alunos e com a comunidade educativa.
“Tanto os professores como os estudantes são transformados por meio do encontro pedagógico à medida que aprendem uns com os outros. A tensão produtiva entre a transformação simultânea individual e coletiva define os encontros pedagógicos.”
“Reformular o que significa ser humano requer reequilibrar as nossas relações uns com os outros, com o planeta vivo e com a tecnologia.
Acredita Rui Marques que somos seres relacionais e que é através de melhores relações que nos tornamos verdadeiramente pessoas, desenvolvemos organizações fortes e comunidades vibrantes.
Assim, torna-se essencial mobilizar e capacitar pessoas, organizações e comunidades para se tornarem conscientes do poder das relações, de modo que as saibam criar, desenvolver ou regenerar.
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Intervenções da audiência e espaço para o contraditório. |
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Na segunda parte da formação, houve algum tempo para "perguntas e respostas", tendo sido possível escutar as intervenções de alguns elementos da "assistência" relativamente aos temas e questões abordadas.
Rui Maques teve ainda ensejo para sublinhar que estamos rodeados de uma visão negativa do mundo. Os jornais, as televisões, as redes sociais dão prevalência ao negativo, ao que é mau, ao que está mal. Importa "mudar de óculos" e começar a ver (e a reconhecer) o que há muito de bom à nossa volta. As escolas também estão cheias de bons profissionais, de boas ideias e de boas práticas.
E destacou ainda que na visão dos alguns filósofos das relações humanas, a forma como interagimos com os outros passa por cinco atos relacionais essenciais:
- pedir - reformular a forma de pedir
- oferecer - o gosto de oferecer gratuitamente, sem esperar nada em troca
- estabelecer acordos - encontrar pontos de contacto de de concordância com o outro
- escutar - prestar atenção e conceder tempo ao outro
- reconhecer - circunstancialmente e essencialmente
E, destacando a importância do "escutar", citou Rubem Alves: “Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil.”
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Foram muitas as conversas geradas a partir desta ACD |
No final, e assumindo que nada disto é fácil e automático, ficou no ar uma ideia apaziguadora das ânsias de perfeição tão características dos professores: "Pode parecer difícil, mas a questão não é saber se é fácil ou difícil. A questão é saber saber se se deve ou não se deve tentar."
Para terminar, importa esclarecer que esta formação de cerca de 3 horas, decorreu no auditório da Biblioteca Municipal e resultou de uma proposta da Direção do AENSM, da creditação do CFTemplários e da colaboração da CMTomar.
Ficam ainda três sugestões de leitura deixadas por Rui Marques a todos os presentes.