Dia 25 de novembro
“O peso do que não se vê” é o título de um texto, da autoria da aluna Telma Godinho, do 12.º ano, turma C, do Agrupamento de Escolas Nuno de Santa Maria, que aborda a violência doméstica, e em particular, aquela que é exercida sobre as mulheres. Em Portugal e no resto do mundo.O texto, que passo a citar, é, também, a explicação para a instalação que a Telma Godinho e o aluno Duarte Xavier, da mesma turma – e presidente da Associação de Estudantes do Agrupamento – idealizaram e montaram na exposição dedicada ao Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres – efeméride criada pela ONU - no Polivalente da ESSMO, escola sede do Agrupamento.
“Nesta instalação, um coração suspenso deixa cair fios encarnados e rosados, simbolizando as marcas visíveis e invisíveis da violência contra as mulheres. Cada fio representa uma história – algumas interrompidas, outras silenciadas, outras ainda a tentar recompor-se.
O coração, elevado, mas fragmentado, mostra como a violência atravessa o corpo e a vida, deixando cicatrizes que se acumulam, pendem, pesam. A sua forma irregular e vulnerável reforça a fragilidade de quem vive com medo, mas também a coragem de quem continua a pulsar apesar da dor.
Ao mesmo tempo, a suspensão sugere resistência: apesar da dor, o coração continua ali, exposto e firme, a exigir que o vejamos e reflitamos sobre ele.”
Nos últimos 20 anos, a violência contra as mulheres em Portugal manteve-se como um problema social grave e persistente. Inquéritos de larga escala e estatísticas oficiais mostram que uma parcela significativa das mulheres portuguesas sofreu, ou sofre, violência física, sexual ou psicológica ao longo da vida.
Dados do INE (Instituto Nacional de Estatística) apontam que, em 2022, duas em cada dez mulheres, dos 18 aos 74, anos declararam ter sido vítimas de violência física ou sexual na idade adulta — o que traduz a dimensão real e latente do fenómeno na sociedade portuguesa.
Os estudos europeus corroboram esta ignominiosa realidade: uma sondagem da Agência dos Direitos Fundamentais da UE (FRA) e estudos subsequentes mostram que cerca de um terço das mulheres na União Europeia sofreu violência física e/ou sexual, com padrões semelhantes aos registados em Portugal, e que a maioria das agressões não é reportada às autoridades.
A ausência de denúncia continua a ser um grande obstáculo para a quantificação real do problema. E voltamos ao belíssimo texto da Telma, “O peso do que não se vê”.
Organizações de apoio como a APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) também registaram um crescimento na procura de ajuda e de acompanhamento: entre 2022 e 2023 o número de mulheres apoiadas pela APAV aumentou cerca de 8,7%, o que mostra um aumento das denúncias ou pedidos de ajuda.
Em 2024 foram noticiadas dezenas de mulheres assassinadas, até meados de novembro (relatórios preliminares apontaram para cerca de 25 casos entre 1 de janeiro e 15 de novembro de 2024), um alerta sobre a gravidade contínua da violência letal contra mulheres.
Entre janeiro e março de 2025 registaram-se 7056 ocorrências participadas à PSP e GNR. Só neste trimestre, seis mulheres foram assassinadas. Foram, igualmente, aplicadas 1289 medidas de coação de afastamento a agressores pelo crime de violência doméstica. No final de novembro, o número de mulheres mortas ultrapassa as duas dezenas.
O Projeto + Humanidade, promoveu atividades que lembram o significado da efeméride, uma jornada de reflexão sobre o grave problema social a que este Dia está associado, a da violência exercida sobre as raparigas e sobre as mulheres, independentemente da sua idade, condição social e formação académica.
As atividades são feitas para que a comunidade escolar possa pensar e refletir sobre o significado deste Dia, para que nos interroguemos sobre esta desumanidade. Não se pode ficar indiferente.
As turmas do Agrupamento participaram com grande entusiasmo na atividade proposta: criação de três frases alusivas à temática e, depois, escrita nos murais , de grande e média dimensão, montados na ESSMO e na EDNAP.
As turmas de Artes participaram ativamente no processo criativo. A turma C1, do 10.º ano, produziu um conjunto de desenhos. Os alunos Telma Godinho e Duarte Xavier, do 12.º ano, turma C, idealizaram e montaram a instalação, a que deram o nome de O Peso Do Que Não Se Vê. Foram expostos diversos cartazes, da APAV, outros, em língua francesa, de alunos do 9.º ano.
Na atividade realizada durante os dias 24 e 25 de novembro, as turmas demonstraram um notável espírito de generosidade, humanismo e civismo. Contribuíram, a partir da sua reflexão, para uma tomada de consciência, revelando sensibilidade para com os atropelos que atingem a sociedade portuguesa, reforçando a importância dos valores que nos ligam enquanto comunidade escolar.
Foi inspirador testemunhar a colaboração que se estabeleceu, o empenho em ajudar e o entusiasmo em fazer a diferença.
A todos os alunos, e turmas, envolvidos, o Projeto + Humanidade deixa um agradecimento especial pela dedicação e pelo exemplo dado. Juntos, continuaremos a construir uma escola mais solidária, crítica e consciente do papel que cada um tem na construção de um mundo melhor.

















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