segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Dia Internacional dos Direitos Humanos

Há uma porta que se abre, uma outra que se fecha. Tem sido assim, ao longo dos milénios, na longa, sobressaltada e gloriosa, tantas vezes, caminhada da Humanidade.

Os filósofos iluministas faziam contrastar as trevas (a ignorância) à luz (ao conhecimento). De certa maneira, a metáfora da porta fechada versus a porta que se abre. E, só pelo conhecimento, reafirmavam, através da escola, educação, se alcançaria o progresso, na libertação das amarras que as trevas impunham à maioria silenciosa do Antigo Regime, fazendo acordar a população do seu secular entorpecimento face aos poderes instituídos.

“O mundo pula e avança, como bola colorida nas mãos de uma criança”, como escreveu o admirável poeta António Gedeão e, em Portugal, felizmente, vivemos em democracia há quase 50 anos. Mais precisamente, 48. Os mesmos 48 que Portugal viveu na “longa noite” da ditadura: primeiro, a militar; depois, a do Estado Novo.

Como acontece todos os anos, o Dia Internacional dos Direitos Humanos, pelo seu fortíssimo significado e projeção no âmbito da cidadania, é celebrado no Agrupamento de Escolas Nuno de Santa Maria. Este ano, o projeto +Humanidade, do Departamento de Ciências Sociais e Humanas lançou o desafio à comunidade escolar e as portas das salas de aula de todas as escolas do Agrupamento foram decoradas pelas turmas que as usam como local de aprendizagem, com os valores inscritos na Declaração Universal dos Direitos do Homem, acompanhados pelo colorido da sua vasta sensibilidade, imaginação e criatividade. A Direção, os Serviços Administrativos, os Assistentes Operacionais associaram-se à concretização da atividade e também decoraram as suas portas. Em boa verdade, a motivação, o entusiasmo, a empatia, a clara consciência dos princípios humanistas por parte dos jovens estudantes resultou numa profusão de trabalhos de grande qualidade, como mostram as belíssimas fotografias captadas pela lente mágica da Marina Sousa, aluna do Curso de Técnico de Multimédia, colaboradora permanente do GIMAC.

No dia 15, ainda no quadro da celebração da efeméride - e neste particular, com a parceria da Câmara Municipal de Tomar, na pessoa da Dra. Patrícia Romão, Dr. André Camponês e Dr. João Coelho; com a Ordem dos Advogados (Secção de Tomar), na pessoa da Dra. Sílvia Serraventoso e do antigo operário fabril, senhor Feliciano Nunes, realizaram-se palestras sobre o Trabalho Infantil. Estas tiveram lugar na antiga Moagem de Tomar e na Fundição Tomarense e foram direcionadas para os alunos do 6.º ano da EDNAP, no período da manhã, e para as turmas do 9.º ano, da ESSMO, durante a tarde.

Na antiga Moagem, um lugar único no riquíssimo património da cidade, sumamente bem preservado, os alunos puderam conhecer, a partir das palavras da Professora Angelina Oliveira, da Dra. Patrícia e da Dra. Sílvia - e dos documentários que foram mostrados, a duríssima realidade do trabalho infantil. Em Portugal, a legislação entretanto criada aboliu essa prática ancestral, direcionando os jovens para a frequência da vida escolar, vivências que os vão empoderar para uma vida menos desafortunada que as gerações anteriores. No entanto, em vários continentes (África, Ásia e América Latina), o trabalho infantil abarca mais de 168 milhões de crianças e jovens, negando-lhes os direitos fundamentais.

Na Fundição Tomarense, o senhor Feliciano Nunes, o último operário que lá trabalhou, começou por afirmar que era um dia muito especial para si, pelo público que tinha à sua frente, pelas memórias que aquele espaço lhe trazia. Via-se claramente no rosto tisnado que a emoção era genuína, quando um misto de emoções lhe tolhiam as palavras. Começara a trabalhar naquela unidade fabril quando tinha 14 anos (hoje, seria crime), a idade da maioria dos jovens que tinha à sua frente. Ganhava seis escudos, o equivalente a 3 cêntimos de euro, numa jornada de oito a nove horas por dia, com descanso ao domingo. Relatou episódios da vida demasiado dura para um adolescente desse tempo, impensável para um adolescente dos tempos em que vivemos. No final da sua comunicação, deu o maior destaque à escola e o que a frequência da mesma significa, não deixando de convidar os rapazes mais afoitos a pegar, e a movimentar, o martelo de ferro que era utilizado nos trabalhos da metalurgia. Os que se julgavam Hércules, fraquejaram com o peso da ferramenta.

A Professora Angelina Oliveira e o Professor Paulo Mendes, coordenadores do Projeto + HUMANIDADE, encerraram a atividade, agradecendo a todos aqueles e aquelas que tornaram possível uma atividade tão proveitosa e tão enriquecedora no âmbito da cidadania.



Nota: Agregadas a esta notícia sobre as atividades desenvolvidas no âmbito dos Direitos Humanos, segue uma pequeníssima amostra de fotografias/imagens. As restantes, bem como a gravação vídeo, cuja edição está a ser ultimada, serão publicadas oportunamente.
prof. José Sobral  






Sem comentários:

Enviar um comentário