Padrão dos Descobrimentos e Torre de Belém
Os dias inquietos, longos e fastidiosos da pandemia já parecem longínquos, agora que recuperámos a liberdade de andar por aqui e por ali, afastados das severas restrições impostas pela Direção-Geral de Saúde. E das malfadadas, mas essenciais, máscaras de proteção.
“Janeiro sem frio não é janeiro”, como diz o aforismo popular. E foi exatamente assim no dia 30 de janeiro. Como bandos de pássaros nas migrações para Sul, as turmas do 9.º ano do Agrupamento viajaram até Lisboa, numa visita de estudo organizada pelos professores de História e de Português.
O entusiasmo dos jovens era tanto que o vento cortante de janeiro foi um pormenor a povoar as memórias da caminhada. Tudo o mais era mais importante.
A parte da manhã foi dedicada à viagem pelo tempo histórico, na visita a dois monumentos emblemáticos da cidade de Lisboa e do país: o Padrão dos Descobrimentos e a Torre de Belém.
As gaivotas rasavam as águas do Tejo, ponto de partida dos navegadores portugueses para as inúmeras e temerárias viagens “até ao fim do Mundo”, enquanto os alunos preenchiam, em trabalho colaborativo, um guião-roteiro relativo aos dois monumentos, organizado pelos professores de História.
Entre um dedo de conversa, um encantamento pelo absoluto ou pela brevidade das coisas, e a procura da resposta certa, captaram o momento, os pormenores que consideraram os mais motivadores dos monumentos e da jornada, em centenas de fotografias.
Ida ao teatro - Auto da Barca do Inferno
No começo da tarde, as turmas assistiram ao Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, considerado o pai do teatro português. A atividade, organizada pelos professores que lecionam a disciplina de Português, teve lugar no Auditório do Centro Social de Santa Joana Princesa, e esteve a cargo da Companhia Instantes de Aplauso. Para muitos, era a estreia nas idas ao teatro. Daí, o bom alvoroço que se vivia na sala, muito antes dos atores iniciarem a representação da peça. E, tal como todos antecipavam, nesse tempo de espera, exerceu um grande poder de atração sobre a plateia, que reagia galvanizada a esta ou aquela diatribe, a uma palavra ou expressão mais ousada. A atuação da companhia mereceu um grande aplauso.
Gil Vicente foi dramaturgo na corte portuguesa, onde viveu cerca de 35 anos, na primeira metade do século XVI. Escrevia e encenava as suas peças, além de organizar as Festas Reais. Foi também poeta e é, provavelmente, o autor da Custódia de Belém, considerada a obra-prima da ourivesaria portuguesa.
O Auto da Barca do Inferno foi representado pela primeira vez, em 1517. A ação passa-se num ancoradouro, onde dois barqueiros, um Anjo e um Diabo (personificando o Bem e o Mal) esperam os passageiros (o fidalgo, o sapateiro, a meretriz, o parvo, o juiz….) para a última viagem: para o Céu ou para o Inferno. O “bilhete” para a “viagem” dependia das ações que cada personagem tinha tido na vida terrena. A peça é uma sátira, uma crítica fortíssima à sociedade da época, o “século de ouro” de Portugal.
Merece um destaque especial o facto de a obra mais famosa de Gil Vicente, A Farsa de Inês Pereira, ter tido a sua primeira representação no Convento de Cristo, em Tomar, no ano de 1523, em honra “do muito alto e mui poderoso rei D. João, o terceiro do nome em Portugal” (D. João III). A propósito de arte e de cultura, este monarca financiou a construção do fabuloso claustro principal do monumento, que tem o seu nome, e a Ermida de Nossa Senhora da Conceição, obras-primas da arte renascentista em Portugal.
Com esta viagem, e as que se fizeram dentro dela, o mundo de cada um e de cada uma ficou muito maior, mais rico e plural.
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