Celebrar o 25 de Abril
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Cineteatro Paraíso
No hemisfério norte, abril tem um significado muito especial. É verdade que a Primavera começa no mês anterior, mas é neste que a Mãe-Natureza nos presenteia com os encantamentos que associamos a esta época do ano: a cor, o brilho, a pujança, a renovação, a metamorfose das paisagens por onde corremos, por onde se espraia o olhar e o pensamento.
Mais de 400 alunos no cineteatro Paraíso |
A professora Angelina Oliveira, na qualidade de vice-coordenadora do Projeto +Humanidades, deu as boas-vindas ao vasto e vibrante público que encheu, por completo, o Cineteatro, e enunciou os objetivos que presidiram à celebração, como atrás se enunciou, realçando que é na junção e na partilha que se alcançam os melhores resultados, querendo com isso reforçar que, na realização da atividade, participaram vários projetos do Agrupamento, várias pessoas – a título individual ou integradas num coletivo - muitas vontades, perspetivas plurais e sensibilidades, que se ajustaram harmoniosamente a um propósito maior.
Prof.ª Angelina Oliveira |
A junção de música, movimento e palavras |
A Mariana Rei, convidada para apresentar a atividade no Cineteatro, continuou, exemplarmente.
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«Estamos aqui para celebrar Abril, o 25 de abril, a revolução que nos trouxe de volta a democracia.
O capitão Salgueiro Maia, o rosto da Revolução que simboliza o triunfo da liberdade sobre a ditadura está muito ligado a Tomar, cidade onde viveu parte da sua adolescência.
E da noite mais escura, uma flor se ergueu, raiada de luz, prenhe de toda a esperança.
Tão longa a espera.
E da longa espessura da noite, quase 50 anos, a aurora radiosa para um mundo novo. Para um Portugal livre.
Santarém. Madrugada de 25 de abril de 1974.
Chegou a hora. Não é possível esperar mais.
No quartel, os camuflados são vestidos à pressa e o Capitão passa a mensagem de boca em boca “Camaradas, que ninguém esmoreça. A vitória é nossa, antes que anoiteça!”
- Há um mês não deu certo. É agora!
O jovem capitão referia-se à última tentativa dos militares para derrubarem a ditadura do Estado Novo, que começara no quartel das Caldas da Rainha, em 16 de março de 1974. A tentativa fracassou e os oficiais foram presos.
Nós sabemos. Todos nós sabemos: não há nada de mais sagrado que a LIBERDADE».
major-general Adelino Coelho (ao centro) e o coronel Luís de Albuquerque (à direita) |
Depois, apresentou os dois convidados: o major-general Adelino de Matos Coelho e o coronel Luís Paulo Correia Sodré de Albuquerque.
A importância do 16 de março para o 25 de abril |
Entre o fim da primeira palestra e a segunda, os professores Júlia Quadros, José Morgado, Isabel Gamelas e Isabel Carvalho cantaram “Trova do vento que passa”, de Manuel Alegre e António Portugal, gravada em 1963 e popularizada por Adriano Correia de Oliveira.
Júlia Quadros, Isabel Gamelas, Isabel Carvalho e José Morgado |
O segundo convidado, o coronel Luís Paulo Correia Sodré de Albuquerque começou por contar como viveu o 25 de Abril. Era um adolescente de onze anos e não foi à escola porque, na cidade onde vivia, o Porto, os militares tinham tomado conta das ruas e se vivia um dia muito diferente de todos os outros. Ele, a família e as pessoas, em geral, seguiam o desenrolar da Revolução através da rádio e da RTP (a preto e branco). Salientou o papel do capitão Salgueiro Maia, de Otelo Saraiva de Carvalho no sucesso do 25 de Abril, dos momentos de tensão e de quase confronto entre militares a favor e contra o fim da ditadura. Por fim, abordou o período de grande instabilidade que sucedeu ao 25 de Abril, até à vitoria definitiva da democracia em Portugal, consagrada na Constituição de 1976.
Coronel Luís Paulo Correia Sodré de Albuquerque |
Ao mesmo que o coronel Luís de Albuquerque apresentava a sua comunicação, a Anaís Fernandes, aluna de Artes, do 11.º F, pintava o retrato do celebrado cantautor Zeca Afonso, criador de “Grândola, Vila Morena”, canção-símbolo da Revolução do 25 de Abril de 1974.
Anaís Fernandes a pintar "ao vivo" |
E mais palavras, lidas pela voz bem calibrada da Mariana Rei.
«Das profundas mudanças que o 25 de Abril trouxe à sociedade portuguesa, uma das mais notáveis foi a igualdade de direitos para as mulheres. Até aí, numa sociedade conservadora e machista – e com um estatuto de subalternidade relativamente aos homens – as portuguesas passam a afirmar-se e a poder ocupar todas as profissões e papéis sociais.
A terceira convidada, a piloto Lígia Albuquerque, um dos espelhos dessa mudança, infelizmente, por motivos de saúde, não pôde estar presente. Nascida e criada no Porto, tem mais de duas décadas a competir nas várias modalidades do automobilismo: campeonatos de velocidade, ralis e todo-o-terreno. Tem ainda a melhor classificação nacional no campeonato WRC (senhoras).»
Em solidariedade para com a intrépida piloto, foi apresentada a sua nota biográfica e um breve testemunho, em vídeo, elaborado pela Mariana Rei.
A celebração continuou com mais uma notável intervenção musical, a cargo de alguns alunos da Prata da Casa: Anaís Fernandes, Francisca Porto, David Miño, Carolina Freitas, Joana Pereira, Pedro Marques e dos professores José Morgado, Júlia Quadros, Isabel Carvalho e Isabel Gamelas.
A "Prata de Casa" |
Numa breve intervenção, antes de se juntar aos restantes cantores, a Anais Fernandes explicou o contexto e o significado do retrato que pintou de Zeca Afonso, com a técnica de acrílico sobre tela. E diga-se sem rodeios, com grande mestria.
Num misto de recato na comunicação e de orgulho em Zeca Afonso, a Anaís falou da estória que está por detrás do retrato do cantautor. Zeca Afonso estava no exílio em Paris, França, e preparava-se para participar numa manifestação que exigia o fim da ditadura em Portugal.
A história deste retrato por Anaís Fernandes |
Foram feitas resmas de cópias de cartazes com este retrato, para serem utilizados nessa manifestação. Entretanto, dá-se a Revolução do 25 de Abril e Zeca Afonso regressa a Portugal o mais rápido que pôde. Por essa razão, o seu retrato deixou de ter, felizmente, a função a que se destinara. A democracia e a liberdade haviam triunfado no nosso país.
Alunos e professores a cantar abril |
Após os belíssimos momentos musicais, e dos prolongados e mais do que merecidos aplausos, foi apresentado um vídeo, com o testemunho de alguns alunos do 4.º ano que frequentaram o Clube UBUNTU. No registo efetuado, expressaram com clareza e espontaneidade o que pensam sobre “ditadura” e “liberdade”.
O cartaz do 25 de abril feito pelos alunos |
A Diretora do Agrupamento, professora Celeste Sousa, valorizou a atividade e saudou os seus promotores, os objetivos a que se propuseram, centrados no humanismo, na cidadania e na apologia dos valores democráticos. Agradeceu, também, aos ilustres convidados e aos alunos, que acolheram com entusiasmo a celebração coletiva.
Celeste Sousa no uso da palavra |
Por sua vez, a professora Angelina Oliveira, em nome do Projeto +Humanidades, agradeceu a todos os intervenientes: Um Gesto de Afirmação (dança; declamação de poema e apresentação da atividade, na pessoa da Mariana Rei); Arte+ (cartaz e programa); convidados (major-general Adelino de Matos Coelho e coronel Luís Sodré de Albuquerque); professor José Paulo Vasconcelos (fotografia); Clube UBUNTU (registo vídeo); Prata da Casa (coletivo de alunos e professores: Anaís Fernandes, Francisca Porto, David Miño, Carolina Freitas, Joana Pereira, Pedro Marques e dos professores José Morgado, Júlia Quadros, Isabel Carvalho e Isabel Gamelas); a professora Lisete Lapa e os alunos do Curso Profissional de Multimédia (gravação vídeo); Fernando Paulo (técnico de som), aos alunos e professores acompanhantes, que contribuíram generosamente para o êxito da iniciativa, simultaneamente tão rica, tão plural e, por isso mesmo, tão gratificante.
Unidos pela voz |
25 de Abril |