segunda-feira, 21 de março de 2022

Quando crescer não quero contar aos meus filhos

Será que é possível ainda termos forças para o que aí vem? Não tenho medo do futuro, tenho receio de que o futuro seja igual ao presente.


Inês Sousa
Tinha catorze anos quando ouvi falar, pela primeira vez, em Covid-19. Não tinha a mínima ideia do que essa estranha palavra significava, nem das vezes que a iria ouvir. Catorze anos… Uma idade em que começamos a ter mais liberdade, mesmo sem saber a sorte que temos em tê-la; mesmo sem saber que existem pessoas, bem mais velhas que nós, que sacrificam as suas vidas para conseguirem um terço da liberdade que aos catorze anos já temos.

Passados alguns anos, tenho plena consciência de que, infelizmente, é necessário perdermos para valorizarmos. Deveria ser assim? Claro que não, mas a pandemia mostrou-nos que não damos o devido valor ao que é mais importante.

Da noite para o dia, deparámo-nos com a falta de liberdade, com a falta de controlo sobre as nossas decisões. Os sorrisos desvaneceram e, mais tarde, foram obrigados a esconderem-se. Os olhos foram dos nossos maiores aliados.

Entrámos em 2022 com fé de que este iria ser um ano melhor, sem termos a noção de que o pior ainda só tinha começado. Os números exuberantes, que nos apavoravam, começaram a diminuir. Estávamos cada vez mais próximos do fim deste túnel que parecia não acabar.

Foi no dia 24 de Fevereiro de 2022 que chegámos à conclusão de que ainda tínhamos um caminho muito longo pela frente. Um caminho desumano e cruel. Os direitos humanos, que antes julgávamos intactos, foram violados.

Sempre cresci a ouvir dizer que “a esperança é a última a morrer”, mas será que é possível que assim seja? Será que é possível ainda termos forças para o que aí vem?

Não tenho medo do futuro, tenho receio de que o futuro seja igual ao presente.

Inês Lourenço Sousa (12º ano)

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