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Quarenta e sete anos passados sobre o vinte cinco de abril, Portugal mudou e o papel da mulher na sociedade tornou-se incomparavelmente mais significativo do que era. No entanto, houve coisas que não mudaram, continuamos a ser governados por homens. Quarenta e sete anos passados sobre vinte cinco de abril e não tivemos uma única mulher como presidente da república. Quarenta e sete anos passados do vinte cinco de abril e primeira-ministra tivemos apenas uma. Quarenta e sete anos depois do vinte cinco de abril, o poder continua vedado à grande maioria das pessoas do sexo feminino. Não quero dizer com isto que devemos escolher ou eleger alguém para um cargo pelo género da mesma, longe de mim dizer isso. Mas custa-me acreditar que num país onde o número de mulheres e de homens é relativamente parecido que seja o demérito que leve a uma ausência de mulheres neste tipo de cargos. Quarenta e sete anos passados sobre o vinte cinco de abril, e ainda estamos assim.
Para além de tudo isto, são as discrepâncias salariais, é a violência doméstica, é o antifeminismo. Sou sincero, às vezes surpreendo-me com esse fenómeno que são as mulheres antifeministas. Como é que uma mulher pode ser antifeminista? É como um homossexual homofóbico ou um ultraconservador inteligente, é contranatura. Aliás, eu já acho contranatura uma pessoa dotada de toda a sua capacidade racional ser antifeminista, agora uma mulher acho o cúmulo. Não cofundamos o feminismo com algumas vozes que para aí se ouvem, o feminismo é muitas coisas, pode ser interpretado de muitas formas, mas a sua essência é única e exclusivamente defender que as mulheres e os homens devem ter os mesmos direitos e oportunidades. Qualquer outra tentativa de colar o feminismo a outros movimentos radicais é pura e simplesmente uma discussão semântica que só nos faz perder tempo e, decerto, paciência.
André Pereira |
Além disto, o pináculo do que mais horrendo há na natureza humana: a violência. O crime de violência doméstica é o crime mais praticado em Portugal e não são precisas grandes reflexões para perceber que as mulheres são as mais afetadas por tudo isto. Poderão dizer-me que não são as únicas vítimas, mas nunca poderemos negar que, sejam jovens, adultas ou até idosas, as mulheres são, sem sombra de dúvida, quem mais sofre de violência física e psicológica em Portugal e em todo o mundo. Agravando todo este cenário, deparamo-nos ainda com o facto de que estes dados apenas revelam os casos que foram reportados às autoridades, notando-se que é um crime com uma taxa de reportação baixa. É uma verdadeira gota no oceano de violência que inunda a vida das mulheres todos os dias em Portugal, este país de brandos costumes, em que a violência contra mulheres é costume. Mas que costume menos brando!
Em jeito de conclusão, o machismo parece me um problema longe de estar completamente ultrapassado. A verdade é que, enquanto continuarmos com discussões supérfluas e inúteis, o progresso em termos de igualdade de género continuará lento e pouco significativo. Enquanto continuarmos a relativizar esta problemática, tudo ficará na mesma e é isso a que temos assistido ultimamente. A páginas tantas, esta história tem tantas páginas que começa a ser difícil virar a página. Bora lá virar a página?
André Peixoto Pereira
Em jeito de conclusão, o machismo parece me um problema longe de estar completamente ultrapassado. A verdade é que, enquanto continuarmos com discussões supérfluas e inúteis, o progresso em termos de igualdade de género continuará lento e pouco significativo. Enquanto continuarmos a relativizar esta problemática, tudo ficará na mesma e é isso a que temos assistido ultimamente. A páginas tantas, esta história tem tantas páginas que começa a ser difícil virar a página. Bora lá virar a página?
André Peixoto Pereira
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