sábado, 5 de março de 2022

A dor que não é nossa é normalizada.

Vivemos num mundo em que o ódio é aplaudido, em que a maldade é romantizada, em que a perceção de Bem e de Mal é distorcida. Como é que nós, seres capazes, comandados por uma mente racional, conseguimos considerar uma violação justificável?

8 por 8

Sexo sem consentimento é violação. Esta é condição suficiente e necessária para a atribuição desse termo. Não escolhe género, idade, lugar, não escolhe roupas. Um “Não” não deixa de ser um “não” pela imagem da pessoa, uma vítima não deixa de ser uma vítima pelo facto de as palavras de justificação do agressor serem mais ouvidas do que as suas.
     
O papel da mulher não é agradar aos homens. Quando nós, mulheres, compramos um vestido, não vemos se está escrito na etiqueta “100% Man approved”. Usar um decote maior, numa saída à noite, não significa que “estamos a pedi-las”. Usar uma saia ou um top que mostre os ombros não tem como objetivo distrair os rapazes. Tudo numa mulher já foi ou ainda é sexualizado. Desde mostrar os calcanhares a amamentar em público, e porquê? Porque estes são os comportamentos que, mesmo sem segundas intenções, fazem na íntegra a culpabilização da vítima ser não só aceite como normalizada.

O que é ser mulher? Recuso aceitar como resposta um “É não ser capaz de estar na rua à noite sem que o pensamento de ser abordada e até violada por um homem lhe passe pela cabeça”. Recuso aceitar um “é ter filhos” ou um “é tratar das coisas de casa” ou um “é casar e servir o marido” ou até “é ter uma vagina”. Ser mulher não se define por nenhum destes fatores, é muito mais do que isso, ser mulher devia ser razão de orgulho e para tantas é razão de medo e vergonha…. Para muitas significa não ter salários iguais, para algumas significa não ter os mesmos direitos que os homens e, para outras, que não são assim tão poucas, não significa absolutamente nada.... Casam aos doze, entregam o corpo que ainda não tiveram oportunidade sequer de conhecer a um homem que não lhes garante respeito, compreensão e amor. Esse amor nem chega sequer a ser uma palavra usada, muito menos sentida, são apenas letras que muitas nem conseguem juntar porque nunca ninguém as ensinou a ler. Aos 15, têm filhos, muitas sem antes passarem pelo terror que é a mutilação genital feminina. Essas são as pessoas que antes de poderem ser meninas, foram obrigados a ser mulheres, mulheres que, no local em que nasceram, por uma questão de pouca sorte, estão para sempre prisioneiras do que para esse povo o conceito de mulher significa.

Muitas morrem sem terem tido a oportunidade de sentir na pele todas as coisas maravilhosas que são ser uma Mulher. Se procurarmos no dicionário sinónimos de mulher não encontramos objeto sexual ou pessoa que acompanha o homem, no entanto, é essa a perceção de uma parte significativa da sociedade.

Mariana Rei
“Rape culture”
não é só um conceito assustador, é a sociedade em que estamos inseridos, é uma sociedade que não condena atitudes sexistas, victim blaming, toque não consentido, etc. Mostrar pele ser visto é visto como um convite e supõe-se que homens não podem ser vítimas de violação, o que leva à sua subsequente desacreditação. Piadas sobre violação, revenge porn, entre outras coisas que criam uma ideia do homem como alguém dominante e sexualmente agressivo e a mulher como submissa e sexualmente passiva.

8 de Março, Dia da Mulher - dia das que lutam por igualdade.
Talvez um dia seja 8 de Março, Dia da Mulher - dia das que podem parar de lutar e começar a viver.

Mariana Rei 11ºB

Sem comentários:

Enviar um comentário