segunda-feira, 25 de abril de 2022

Ignorância

Não sei o que é o 25 de abril!

Esta é a verdade nua e crua … não tenho vergonha de a dizer e volto a afirmá-la: não sei o que é a revolução dos cravos!

Ao dizer isto, não quero que me interpretem mal… não quero que pensem que sou uma cidadã ignorante e inculta que, às portas da faculdade, nem sequer sabe o que é o 25 de abril.

Efetivamente, eu sei o que foi o 25 de abril.

Aprendi isso através dos manuais de história e dos sites da internet. Qualquer um deles me ajudou a compreender o que foi este acontecimento. Todas as fontes de conhecimento afirmam que o 25 de abril foi uma revolução que permitiu que Portugal sai-se da ditadura, passando a ser um país democrático, concedendo a desejada liberdade a um povo explorado e oprimido.

Também me explicaram como tudo isto aconteceu: foi apenas necessária uma música, cravos vermelhos e, claro, a resiliência e coragem, não só dos capitães de abril, mas também de todos os cidadãos portugueses.

Afinal, até sei o que foi o 25 de abril…

Mas, eu nunca disse o contrário… disse apenas que não sei o que é o 25 de abril.

E esta mudança tão subtil do verbo "ser" no pretérito perfeito para o verbo "ser" no presente é tão significativa.

Saber o que algo foi por o ter estudado ou saber o que algo é por o ter vivido é muito diferente. E é por isso que eu afirmo, convictamente, que sei o que foi a revolução de abril mas não sei o que ela é.

E, alguém me pode censurar por isso?

Fui, e sou, uma sortuda. Nasci num país livre e sempre tive o direito de frequentar a escola, de dizer o que penso, de sentir o que quero e de me vestir como bem entender.

Assim, se para a minha avó o 25 de abril é sinónimo de liberdade e para a minha mãe o 25 de abril significa poder cantar, para mim esta data não me diz absolutamente nada.

Mas, infelizmente, nem todos tiveram a mesma sorte.


E, pior do que isso, atualmente, muitos estão a ser obrigados a descobrir o que é o 25 de abril. Cite-se a título de exemplo a realidade das mulheres afegãs, que nasceram livres e que, agora, estão a perder tudo, ou os refugiados Ucranianos que, de um momento para o outro, mudaram radicalmente as suas vidas…

É tão triste saber que vivo num mundo onde ainda há povos que não tiveram um 25 de abril e que ainda o terão de descobrir.

À guisa de conclusão, termino com a minha tese inicial: não sei o que é o 25 de abril.

Espero nunca vir a saber o que é e poder ficar na minha sábia ignorância!

Sofia Sá Correia Cavacece


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