Celebrámos a revolução. Mais um ano, mais uma vez. Celebrámos abril e tudo o que abril significa, celebrámos a democracia, a liberdade, a vida. Ouvimos gritos de emoção, ouvimos palavras de ordem, revivemos a revolução. Para mim, neto de abril, ficar também emocionado com estes gritos parece-me inevitável. As palavras de ordem começam a ser também as minhas, revivo a revolução que nunca vivi. A verdade é que, para uma pessoa da minha idade, a única coisa que tenho do 25 de abril é a recordação dos outros. Talvez isso seja suficiente. Ou talvez não. Talvez nunca saberei o que verdadeiramente significou abril. Talvez, no que diz respeito a abril e ao estado novo, ficarei para sempre refém da minha imaginação. Ainda bem. Hoje, como o jovem que sou, abril é a memória de outros, mas é também futuro. Um futuro livre e democrático, um futuro melhor com que, como neto de abril, não ouso sequer deixar de sonhar.
André Pereira |
Eu, livre, oiço e vejo pessoas a falar da revolução. Vejo entrevistas, leio artigos e até eu próprio os escrevo, mas não vejo futuro. De que valem palavras caras num país pobre e desigual. Sinto as recordações dos outros, mas não sinto ambição nas suas palavras. Talvez seja porque sou jovem. Talvez seja falta de maturidade. Talvez seja utopia. Mas em que momento é que perdemos aquela que foi a maior conquista de abril: o direito a sonhar? Oiço passado e oiço conformismo, oiço aqueles que dizem o que todos querem ouvir e oiço aqueles que se dizem muito preocupados com estes últimos. Na verdade, não oiço nada. Nada de novo. Nada a que aos novos diga respeito. Tenho pena e tenho ambição. Tenho pena que eles não tenham ambição.
Talvez esteja a ser injusto. Talvez ainda haja quem ouse, à
luz de abril, adivinhar um futuro que ainda falta cumprir. Mas, e como há
sempre um mas, nem com esses inconformistas eu me conformo. Uns, vítimas do
tempo e do progresso, gritam abril aos quatro cantos não percebendo que o abril
que idealizam já não existe e que um futuro planeado a pensar no passado não
passa de teimosia. Já os outros, mais modernos e elegantes, são vítimas da
lógica e do bom senso. Estes querem abril, querem novembro, querem liberdade.
Querem tanta liberdade, mas não se conseguem libertar do espartilho das suas
convicções ideológicas. Parecem comerciantes. Parecem comerciantes a tentar
vender-nos medidas que nos trarão um futuro glorioso. É inevitável esse futuro
glorioso, cheio de aquilo a que chamam liberdade. É inevitável, está escrito
nas estrelas. Mas, entretanto, as estrelas contemplam um dos países mais
desiguais da europa que é o nosso. E, no meio de tantas constelações, eles
distraem-se e esquecem-se que a “liberdade sem regras conduz à escravidão”.
Fico, então, com a sensação de que ser neto de abril não é mais do que isto: um permanente inconformismo, até com os inconformistas. Mas, pensando um pouco mais, percebo que não. Ser neto de abril é sonho, mas não é utopia. É nunca perder o rumo de vista, mas não é ficar cego de tanto idealizar esse rumo. Ser neto de abril é, com o modernismo que o presente nos merece, não ver o mundo a preto e branco e ter sempre a ambição de lhe dar um pouco mais de cor. É perceber que o mundo é complexo, vendo esse mesmo mundo sem complexos. O que quero? Quero ânsia por algo melhor, algo novo. O que quero? Quero realismo e sonho, pois só assim posso tornar o sonho realidade. O que quero? Quero viver num caminho eterno rumo ao horizonte que é abril. Esse horizonte que será, para sempre, brilho nos olhos de um neto de abril. Celebremos isso!
André Peixoto Pereira
*Este projeto foi realizado pela Associação de Estudantes da
ESSMO de modo a celebrar o 25 de abril e a revolução dos cravos. A associação
de estudantes deixa um especial agradecimento a todos os que nos concederam
entrevistas, a todos os que escreveram artigos e a todos aqueles que os leram.
Um agradecimento também a todos os professores que colaboraram no processo, em
especial à professora Maria do Céu Baião.
Muito bom ,André Peixoto Pereira PARABÉNS..Gostei de ter participado no vosso projecto. Li todas as outras entrevistas, cada uma com as suas vivências, mas gosto sobretudo das tuas / vossas conclusões. Tenho a certeza que esse brilho nos olhos de um/s neto/s de Abril , nunca se ofuscará , pois tem em vista um caminho traçado em consciência rumo ao horizonte que é Abril.
ResponderEliminarParabéns a ti . Parabéns á Associação de Estudantes.
Um abraço
LUISA FEIJÓ
Muitos parabéns André, beijinhos, Dina
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